Passos improvisados de tango e risadas, no corredor do meu apartamento. Uma festa cheia de amigos queridos, celebrando alguma coisa que não saberemos direito o que é, mas que deve ser celebrada. Abraços, borrachudos, a primeira visão de seu necessaire (para que tanto creme, meu Deus?!), respirações ofegantes, camarões, cafunés, banhos de mar – você me agarrando com as pernas e tapando o nariz, enquanto subimos e descemos com as ondas -- mãos dadas no cinema, uma poltrona verde e gorda comprada num antiquário, um tatu bola na grama de um sítio, algumas cidades domesticadas sob nossos pés, postais pregados com tachinhas no mural da cozinha e garrafas vazias num canto da área de serviço. Então, numa manhã, enquanto leio o jornal, te verei escovando os dentes e andando pela casa, dessa maneira aplicada e displicente que você tem de escovar os dentes e andar ao mesmo tempo e saberei, com a grandiosa certeza que surge das pequenas descobertas, que sou feliz.
Talvez, céus nublados e pancadas esparsas nos esperem mais adiante. Silêncios onde deveria haver palavras, palavras onde poderia haver carinho, batidas de frente, gritos até. Depois faremos as pazes. Ou não?
Tudo que sabemos agora é que eu te quero, você me quer e temos todo o tempo e o espaço diante de nossos narizes para fazer disso o melhor que pudermos. Se tivermos cuidado e sorte – sobretudo, talvez, sorte - quem sabe, dê certo? Não é fácil. Tampouco impossível. E se existe essa centelha quase palpável, essa esperança intensa que chamamos de amor, então não há nada mais sensato a fazer do que soltarmos as mãos dos trapézios, perdermos a frágil segurança de nossas solidões e nos enlaçarmos em pleno ar. Talvez nos esborrachemos. Talvez saiamos voando. Não temos como saber se vai dar certo -- o verdadeiro encontro só se dá ao tirarmos os pés do chão --, mas a vida não tem nenhum sentido se não for para dar o salto.
Quando entramos nesse mundo irreal chamado fake não temos idéia da dimensão que ele tem e até onde pode nos levar , que coisas e/ou pessoas ele pode nos trazer. Devia existir algo que estipulasse com que idade entrar e sair dali, com quem poderia ou não se relacionar. Para que o fake só lhe trouxesse coisas boas, bons momentos, com boas pessoas. Só que tem um porém, ninguém nos impõe essas regras e então você entra cedo demais no fake, acaba saindo tarde demais, conhece pessoas incríveis que amanhã sumirão e você nunca mais terá notícias. Felizmente nem tudo é assim e te aparecem pessoas de outros estados, com as mais diversas idades, ou também da mesma cidade, com a mesma idade, idéias e ideais semelhantes. E por mais difícil que se torne o ‘conhecimento em of’, vocês tem certeza que essa amizade durará muito e que estará sempre na memória. Que contarão histórias e momentos desses ‘amigos virtuais’ aos filhos , netos e se puder bisnetos. Esse mundinho ‘falso’ ensina a qualquer um em poucos meses ou semanas o que se levaria anos para aprender na vida real. Por mais coisas que lhe aconteçam no fake, você levará somente o melhor, as boas recordações e o que as decepções ou desamores te ensinaram. Hoje me agradeço por ter entrado nesse mundo e ter viciado para poder dizer ‘vivi e aprendi’ .